A minha melhor lembrança

Essa semana recebi um e-mail de uma leitora pedindo para que eu escrevesse sobre uma lembrança que me emocionasse, ou que fosse importante pra mim. Assim que terminei de ler o e-mail, que inclusive eu adorei muito (obrigada Gaby), já sabia exatamente o que iria contar. Foi um momento da minha vida que me tirou lágrimas dos olhos, tipo quando você assiste aqueles filmes de romance que não tem um final tão feliz. Mas chega de blá-blá-blá, e vamos falar do que importa.

A uns dez anos atrás, estava na casa da minha avó materna, iriam completar cinco anos que meu avô tinha morrido, então iriamos no cemitério levar flores e cumprir com ritos religiosos que é de costume. Era um daqueles dias de céu nublado, o clima frio, as pessoas todas com casacos gigantescos, todas as coisas que podem te deixar cair em um buraco de escuridão e tristeza. 
Assim que almocemos, fomos para o cemitério. Nunca gostei de estar lá, então fui grudadinha no meu pai e na minha mãe, não por medo, mas pelo sentimento de solidão que aquele lugar me provocava. Assim que chegamos em frente à lapide de meu avô todos nós paramos e em sinal de respeito ficamos em silêncio, cada um fazendo a sua oração.
Quando estavamos prontos para sair minha vó pediu para ficar alguns minutos sozinha. Todos respeitaram isso, e a deixaram lá. Eu fiquei curiosa para saber porque ela ficaria ali sozinha, me escondi atrás de uma lápide e a observei de longe, mesmo eu achando que ela sabia que eu estava ali, afinal eu nunca fui tão boa nas brincadeiras de esconde-esconde por ser muito ruidosa. Ela estava chorando sentada ao lado da lapide, aquela sena, tenho que admitir, que me partiu o coração e mesmo com a minha pouca idade eu entendi que aquilo significava que ela ainda amava ele, que meu avô tinha sim sido o homem que ela amou a vida toda.
E então pude ouvi-la dizer algumas coisas, que não entendi direito então tentei me aproximar mais para poder compreender o que ela falava, foi quando um vasinho de flor me denunciou, como eu disse eu era muito ruidosa. Minha avó se virou para trás e falou: "A menina é você. Me deu um susto. Venha cá!". Fiquei envergonhada, mas fui até ao seu lado e fiquei lá observando-a. Ela olhava para a lapide quando falou o seguinte: "Eu tive uma vida sofrida, eramos muito pobres no inicio, tínhamos que sustentar nossos filhos, foi realmente muito difícil. Ele ficava pouco em casa, ele tinha que trabalhar nas estradas, eu não gostava disso. Tive a vida que qualquer um jamais gostaria de ter. Mas sabe de uma coisa menina? Se eu tivesse a chance de começar do zero, seria ao lado dele.". Uma lagrima brotou dos olhos da minha vó, e naquele instante eu sabia que teria uma lembrança que me acompanharia para o resto de minha vida.
E mesmo hoje, dez anos depois, eu juro nunca ter visto ou ouvido algo mais lindo e sincero que aquelas palavras de uma senhora, que mesmo depois de anos junto com o marido, continuou o amando da mesma forma que o amava no incio, com a mesma paixão jovem e pura de quando trocaram o primeiro olhar.

Bom gente, essa é a minha lembrança mais emocionante. E se da pra acreditar isso realmente aconteceu, a história dos meus avós realmente daria um ótimo filme, eu adoro ouvir minha vó contando as histórias deles, é muito lindo mesmo. Quem sabe algum dia eu não conto alguma história deles por aqui, o que vocês acham?

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