Noite De Halloween!



Ano de 1999, Outubro.
Eu morava em uma casa de esquina em Ribeirão Preto, ao lado de um loteamento de apartamentos novos (só havia terrenos baudios e minha casa dava de esquina para o início do loteamento, que perdia de vista. Para muitos, a minha rua "Rua do Professor" era considerada o Fim da Picada, pois adiante dela, só mato, escuridão e perigo. Lá era o cemitério de cães e gatos, pois sempre que morria cachorros e gatos, eles eram jogados ou enterrados no grande loteamento (alguns vivos, vítimas de ações de jovens doentis que gostam de judiar de animais).

Minha casa tinha muros altos, e grandes palmeras do lado de fora (na calçada que dava para a Rua do Professor, atravessando-a, só mato). A casa era grande, pode-se chamar de "casarão", em um dado evento, em julho de 1999, não me recordo o dia, meus pais sairam para uma festa de adulto, e eu preferi ficar em casa, ao lado do meu fiel computador. O manto da noite encobria a cidade, e ficava frio (Ribeirão tem esta característica em dadas épocas do ano), a casa era muito grande para uma criança só. Meu quarto ficava no fim do corredor, da porta, conseguia ver toda a extenção da casa até a cozinha, bem lá na frente, após cruzar a sala.

Meus pais sairam por volta das 4 da tarde, e voltariam durante a madrugada e me recomendaram ir dormir antes das 11. Como eu fiquei no meu quarto (sem internet) mas compenetrado programando softwares (sim, eu era nerd), não vi o dia passar e noite cair. Quando chegou o momento que senti um ar frio vindo por minha nuca. Assutado virei-me e fitei o quarto vazio, com a porta aberta. A cortina pulsava para frente e para trás, seguindo o balé mórbido do vento gélido.

Muitas vezes em Ribeirão Preto, avizinham tormentas com muito vento, principalmente se são derivadas de uma frente fria, e era o que estava acontecendo. Voltando a história: *trruuuuummmm...* ouvi um ruído grave, como o som de critpas de chumbo batendo nas entranhas da terra. O primeiro trovão anunciou a tormenta e eu estava sozinho em casa. As palmeiras estavam agitadas com o vento e eu começara a ouvir os primeiros sons de estalidos das balaústras (vigas do telhado) rangendo com a pressão do vento nas telhas, a casa era forte, e isso não me preocupava, mas eu precisava trancar a casa toda, foi quando eu percebi o grande erro que eu cometera ao me distraír com meu hobby nerd: Eu fiquei no quarto, a noite chegou, e não deixei nada asceso para o lado de lá. Ao parar diante da minha porta, a luz do meu quarto se perdia no extenso corredor, como se as sombras estivessem consumindo a luz, vorazes por vida.

O vento apertou, e a luz do meu quarto começou a oscilar, vítima da grande torrente que balançava os fios dos postes irresponsavelmente. Já era possível ouvir o som das palmeiras se agitando em sincronia, como um coral fúnebre diante do grande cemitério de animais ao lado de minha casa. Cautelosamente fui caminhando pelo corredor, avançando na sombras. Minhas mãos suavam frio, passo a passo, eu ia avançando, sendo engolido pelo mar negro, envolvido pelos som da tempestade se avizinhando. Os primeiros relâmpagos começaram a aparecer, e desenhavam no chão, figuras desformes de galhos, folhas e móveis distorcidos, seguido pelo som ensurdecedor. Como minha vista estava se acostumando com a escuridão, os flashes de raio, ofuscavam minha vista e deixava impresso e minha retina, pedaços de imagens deformadas que, ao dissiparem, me faziam retroceder no processo de me acostumar com a escuridão. Não havia luz para mim.

O vento chegara ao seu auge, e o que mais me dava medo começou a ser ouvido: O grande cemitério agitando suas folhas. Era possivel ouvir as volumosas folhagens se retorcendo com o vento, remechendo a terra molhada onde dezenas e centenas de cadáveres de animais estavam mediocremente enterrados e mutilados. Foi quando alcancei a sala, ampla escura, era possivel fitar os lustres do teto, com formas antigas que davam uma impressão maior de horror a cena. Eu só queria um interruptor, quando eu avançei um pouco mais, um trovão próximo caiu, gerando um estalo ensurdecedor e um flash de luz ofuscante, logo após este trovão, ainda destorteado, ouvi uivos, sim, isso mesmo... Uivos de dor e melancolia, uivos tristes demais para serem emitidos por um simples cão, estava muito próximo, quando ouvi um barulho na cozinha, eu estava diante da porta aberta, e em meio aos azulejos lá na frente, vi um par de olhos brilhando... aquele brilho que os olhos de cachorros fazem quando é jogada uma luz contra eles, mas eu nao vi o dono dos olhos, apenas um par de olhos bem fracos no fundo da cozinha, e uivos melancólicos e ao mesmo tempo ameaçadores. Minha espinha arrepiou, os pêlos da minha nuca eriçaram e minhas pernas fraquejaram. Era como tudo se fosse câmera lenta, era como se eu pudesse ver o cão deformado, sujo de lama, que emergiu das profundezas da terra.

Fechei os olhos e começei a rezar, um novo trovão ensurdecedor caiu novamente, e com um gesto involuntário, eu finalmente ascendi a luz da sala e todo o ambiente foi regado de luz.

Neste momento, eu reabri os olhos, e como uma falsa calma, a chuva caia la fora, como se o grande clímax de terror houvesse passado. Fitei com anciedade o local que estava o par de olhos, nada havia ali. Ouvi o trinco da porta e um rangido: Meus pais haviam chegado mais cedo, preocupados comigo.

Após as devidas explicações, acompanhei minha mãe na cozinha (mas nunca contei para ela o fato do uivo e do cão). Ao entrar na cozinha, próximo a porta que dá acesso ao corredor lateral (o mais próximo do loteamento), que é justamente onde eu havia visto os olhos, havia 3 pegadas de pata de cachorro sujas de lama.

A porta estava fechada e trancada. Nunca consegui explicar o que foi aquilo, e até hoje carrego esta dúvida. 6 meses depois, me mudei desta casa. Hoje, no lugar do terreno, há grandes prédios. Não sei o que houve com as ossadas dos cadáveres, mas acredito que aquele lugar de Ribeirão Preto é especial.  A Rua do Professor .



Autor: Desconhecido

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